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Voepass pode perder seus slots em Guarulhos e Congonhas: entenda o que está em jogo


A Voepass Linhas Aéreas vive um momento decisivo que pode selar seu futuro nos dois aeroportos mais disputados do Brasil: Guarulhos e Congonhas, ambos em São Paulo. A menos de uma semana do prazo final, a companhia corre sério risco de perder seus slots – os preciosos horários de pousos e decolagens – caso não retome suas operações regulares até o próximo domingo, 11 de maio.

Desde 11 de março, a Voepass está com suas atividades suspensas por determinação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), após o descumprimento de exigências operacionais. A paralisação interrompeu todos os seus voos regulares, e até o momento a empresa não conseguiu voltar a operar.

A situação é crítica porque, segundo as normas da Anac, uma companhia aérea precisa utilizar no mínimo 80% de seus slots durante cada temporada (verão ou inverno) para manter o direito de operá-los. Com a temporada de verão vigente desde 30 de março e se estendendo até 25 de outubro, o marco de 11 de maio representa 20% do período total. Se a Voepass não voltar a voar até essa data, a meta mínima se torna inatingível – e os slots poderão ser redistribuídos.

Atualmente, a Voepass detém 20 slots diários em Congonhas e 8 em Guarulhos – números expressivos, considerando o apetite de grandes companhias por horários nesses terminais congestionados. Mas esses slots estão ociosos desde março, representando um gargalo para a malha aérea e um prejuízo estratégico para a própria companhia.

Se perder o controle desses slots, a Voepass também perde o direito de prioridade na alocação de horários nas temporadas seguintes. Para retomá-los, teria de competir do zero em um processo conduzido pela Anac, enfrentando a concorrência de empresas como LATAM, Gol e Azul.

A Anac já afirmou que está monitorando a situação e, caso o índice mínimo de utilização não seja cumprido, irá redistribuir os slots para outras companhias aéreas regulares. Um pedido do Comando da Aeronáutica para que os slots da Voepass fossem realocados para aviação geral (como táxis aéreos e jatos executivos) foi negado, já que a regulamentação exige que a redistribuição seja feita entre operadores regulares.

Esse quadro sombrio ganha ainda mais peso quando se considera o histórico recente da Voepass. A companhia entrou com pedido de recuperação judicial no dia 22 de abril, buscando reorganizar suas finanças e se reestruturar após a suspensão imposta pela Anac. Segundo a empresa, a medida faz parte de um plano iniciado em fevereiro para enfrentar as dificuldades do setor aéreo regional.

Mas o desafio vai além das finanças. Após um trágico acidente com o voo 2283 em agosto de 2024, que vitimou 62 pessoas em Vinhedo (SP), a empresa passou a operar sob fiscalização intensiva da Anac. O acidente foi o mais fatal no país desde 2007 e colocou em xeque a segurança operacional da companhia.

Com um cenário regulatório desfavorável, pressão do mercado e perdas humanas irreparáveis, a Voepass encara uma possível retirada forçada de cena nos maiores hubs aéreos do Brasil. Se os slots forem mesmo redistribuídos, será mais um passo no processo de declínio de uma companhia que já teve papel relevante na conectividade aérea regional.

Resta agora observar os próximos dias e verificar se a Voepass conseguirá um último fôlego para evitar esse desfecho.

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